O cenário político mudou significativamente, agora com maior favorecimento à esquerda, pois a oposição entrou em conflito com o sentimento democrático e patriótico da maioria da população. As manifestações realizadas no domingo contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia marcaram esse momento de virada. Problemas como entropia, fisiologismo e patrimonialismo, fortalecidos pelas emendas parlamentares, permanecem liderados por políticos ligados às antigas oligarquias, cuja reeleição depende de tradicionais “currais eleitorais” e não da opinião pública ou redes sociais. Agora, a Câmara dos Deputados descobriu que ainda há no Brasil uma sociedade civil organizada, capaz de se indignar. Como eleito pelo voto majoritário, caberia ao Senado tentar redirecionar o rumo do Congresso.
Essa indignação foi fundamental para tirar a esquerda do isolamento e promover uma ampla mobilização de associações, entidades e movimentos, que, em apenas 72 horas, organizaram as manifestações do último fim de semana contra a impunidade e o golpismo. Em 33 cidades, incluindo todas as capitais, multidões demonstraram que não aceitam a impunidade nem retrocessos, deixando claro o recado contra qualquer tentativa de anistia ou blindagem para os corruptos. Essa mobilização teve papel destacado em diferentes regiões, com apoio de artistas renomados, tais como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Paulinho da Viola, Chico César, Daniela Mercury e Wagner Moura.
O gatilho da mobilização não foi apenas a pauta do Congresso, mas uma combinação de fatos recentes que indignaram a opinião pública, como a exibição da bandeira dos Estados Unidos em ato bolsonarista na Paulista, considerada uma afronta à soberania; o projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo STF; e a tentativa de golpe de 8 de janeiro, rapidamente associada à pandemia sob o governo Bolsonaro. A gota d’água foi a PEC da Blindagem, que reforçou a percepção de que os deputados se consideram acima de todos, se esforçando para se manter impunes.
As forças propulsoras dessa PEC estão ligadas às investigações sobre o orçamento secreto, envolvendo deputados e senadores com bilhões de reais de origem e destino incertos, considerados suspeitos por quase um órgão do STF. Nos últimos anos, foram distribuídos cerca de R$ 186 bilhões em emendas sem transparência, um montante que evidencia a corrupção enraizada nesse sistema, marcado por suborno, peculato e lavagem de dinheiro. Esses deputados, protegidos pela imunidade parlamentar, buscam agora impedir o avanço das investigações.
Na semana passada, foram abertos mais de 148 novos inquéritos relacionados a desvios que somam aproximadamente R$ 85 milhões, refletindo a gravidade dos casos ocorridos durante as legislaturas de 2019 e 2023, marcadas pelo uso indevido de recursos públicos. A PEC da Blindagem surge, assim, como uma reação ao cerco judicial que se aproxima desses políticos, demonstrando o quanto o Congresso se afastou dos interesses da sociedade.
Desde o Natal, o presidente da Câmara, Hugo Mota, tentou aprovar a PEC, que foi aprovada com uma margem folgada, com o apoio de variados grupos políticos, inclusive de alguns setores da esquerda, formando uma aliança perigosa. O pacto entre os políticos envolvidos e bolsonaristas revelou-se uma tentativa de proteger a impunidade e a anistia, enquanto o presidente Lula, com uma minoria no Congresso, assistia às negociações de longe, impotente.
O episódio expôs a vulnerabilidade da liderança da Câmara, que, em março, já havia sido alvo de protestos de bolsonaristas contra a tentativa de pautar a anistia. Essas manifestações demonstraram a força da resistência popular em defesa das instituições democráticas e do STF, mostrando que qualquer tentativa de blindagem ou anistia enfrentará forte resistência e provavelmente fracassará.
Comentar