Yifat Tomer-Yerushalmi tornou-se o centro de um escândalo que revelou violações de direitos humanos contra prisioneiros palestinos na penitenciária militar de Sde Teiman, localizada no Deserto do Neguev, próximo à Faixa de Gaza. No domingo (2/11), ela desapareceu por algumas horas após escrever uma carta de renúncia ao cargo na qual admitia ter ordenado o vazamento de um vídeo que mostrava cinco soldados abusando sexualmente de um detento. A imprensa israelense interpretou a mensagem como uma possível nota suicida. O vídeo, gravado em julho de 2024, mostra os militares abordando o preso, que está deitado, levando-o até uma cerca, enquanto ocultam a sessão de tortura com escudos. O vídeo revela que o palestino foi espancado e teve um objeto afiado introduzido no ânus, causando uma laceração na parede retal.
Na segunda-feira (3/11), Tomer-Yerushalmi foi presa sob suspeitas de fraude, quebra de confiança, abuso de cargo, obstrução da Justiça e divulgação de informações oficiais por um funcionário público. A Justiça ordenou que ela permanecesse sob prisão preventiva por pelo menos três dias. A polícia encontrou em seu celular mensagens trocadas com os soldados suspeitos, o que indicaria tentativa de atrapalhar as investigações.
Em reunião de gabinete, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o incidente em Sde Teiman ” causou imenso dano à imagem do Estado de Israel e das Forças de Defesa de Israel (IDF)”. Ele afirmou que uma investigação independente e imparcial é necessária. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, ordenou ao Serviço Penitenciário que atuasse com extrema vigilância para garantir a segurança da detenta.
Após a divulgação do caso, em fevereiro de 2025, as IDF indiciaram os cinco soldados por maus-tratos, baseando-se em imagens de câmeras de segurança que sugerem atos ilícitos, embora sem mostrar detalhes explícitos. Os soldados enfrentam acusações de agressões violentas que resultaram em lesões graves ao detento, incluindo costelas quebradas, pulmão perfurado e fissura anal, apoiadas por laudos médicos e imagens de vigilância.
A penitenciária de Sde Teiman foi instalada em uma base militar para prender palestinos detidos durante operações na Faixa de Gaza, no contexto da guerra entre Israel e Hamas.
Professor de relações internacionais, Eytan Gilboa, comentou que o vídeo é apenas uma das evidências do suposto abuso e ressaltou que Israel trata crimes de guerra com seriedade, ao contrário do Hamas, que é uma organização terrorista. Gilboa também afirmou que a ex-procuradora-geral do Exército não revelou segredos nacionais ao vazar o vídeo, mas sim cometeu um erro ao tentar encobrir a divulgação enquanto alegava investigações em andamento.
Yifat Tomer-Yerushalmi, 51 anos, entrou para a história de Israel em 2021 ao se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral do Exército. Formada em direito pela Universidade Hebraica, ela trabalhou na Divisão Jurídica das Forças de Defesa de Israel desde 1996, atuando também como juíza militar entre 2007 e 2015, alcançando a patente de coronel. Em 2019, foi promovida para gerenciar temas de gênero nas Forças Armadas israelenses pelo então chefe das IDF.






Comentar