Jogo Sujo

Um pacto nacional contra o crime

Um dos maiores desafios da Segurança Pública hoje é combater as organizações criminosas. O PCC já é uma “corporação” de abrangência nacional, dona de 200 postos de combustíveis e frotas de táxi, com ramificações no sistema de transporte público da Grande São Paulo

Já está mais do que na hora de um pacto nacional contra o crime organizado. Essa deve ser uma pauta obrigatória para o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, sem a qual sua passagem pelo cargo terá sido inócua. O tempo é curtíssimo: mantido o ritmo atual, em mais alguns anos, o “poder paralelo” será o próprio Estado, inerte e impotente diante da supremacia do crime. Ainda que imprecisos, com elevado grau de dispersão dependendo da fonte, os números são estarrecedores. Já há mais de cem facções criminosas de médio ou grande porte catalogadas pelas autoridades da área de segurança, algumas com hegemonia regional, outras com notório alcance nacional.

A maior holding criminosa do Brasil simboliza o avanço desse “setor da economia”. Estima-se que o Primeiro Comando da Capital (PCC) tenha movimentado cerca de R$ 500 milhões em 2019. Estimativas do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) apontam que esse número duplicará até 2022. Não há corporação brasileira ou segmento da economia que chegue perto do crescimento do “PIB do crime”.

O maior desafio do aparelho de Justiça e Segurança Pública é desvendar as várias colorações que mascaram as organizações criminosas. As maiores facções do país são camaleônicas. Camuflam suas atividades ilegítimas com negócios aparentemente legais. Mais uma vez, o PCC é o grande exemplo. O Estado de São Paulo e, mais precisamente, a capital são dominados pelo bando.

Sem saber o cidadão paulista ou paulistano mantém contato direto com o crime organizado várias vezes ao longo do dia. Segundo investigações do Ministério Público e da Polícia Civil, o PCC já opera mais de 200 postos de combustíveis na Grande São Paulo. É dono de mais de 50 motéis na região, controla frotas de táxi, distribuidoras de gás. Está interligado em serviços que são oferecidos ou passam pelo próprio Estado, como na área de transportes. Investigações do Ministério Público mostram que o PCC é o principal responsável pelas fraudes do bilhete único, que resultam em um prejuízo estimado em mais de R$ 150 milhões por ano.

Enraizada em órgãos públicos, a facção criminosa não apenas adultera os bilhetes únicos, como manobra por dentro do próprio aparelho de Estado para brecar qualquer medida de combate às fraudes. Basta checar o número de funcionários da SPTrans – a estatal responsável pela gestão do sistema de transporte público por ônibus em São Paulo – presos todos os anos por participação neste tipo de delito. Trata-se de um assalto diário à sociedade paulista. É absolutamente imperdoável que nada seja feito.

Ainda no setor de transportes, as investigações também apontam a notória relação entre o PCC e empresas de ônibus, sobretudo da capital, sempre usufruindo da conivência ou, na melhor hipótese, da impotência das autoridades policiais.

A situação em São Paulo chegou a tal ponto que o Legislativo deverá chamar a questão para si. Nos corredores da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), segundo o Blog apurou, já se fala na criação de uma CPI do Crime Organizado. Não seria a primeira. No início dos anos 2000, a Casa instaurou uma comissão semelhante. Eram outros tempos. De lá para cá, o crime adquiriu um nível de sofisticação e um entroncamento com o próprio Estado sem comparação.

Ainda que o epicentro do PCC seja São Paulo, a facção é hoje uma “corporação” de abrangência nacional. Informações recentes das autoridades de segurança indicam sua presença em 23 dos 27 estados brasileiros. Nas demais unidades da federação em que não opera diretamente, tem “parcerias operacionais” com grupos criminosos locais, como no caso do Rio de Janeiro.

Esta, no entanto, não pode ser uma atitude isolada da Alesp ou de qualquer outra instância pública, por mais representativa que seja. Repita-se: o governo federal, na figura do ministro Sergio Moro, deve urgentemente assumir o papel central no enfrentamento do crime organizado, aglutinando os Três Poderes, os governadores, as Secretárias de Segurança, o Ministério Público Federal e os MPs estaduais e a própria sociedade civil.

 

Redação

2 Comentários

  • Muito breve terá que agir enquanto a corrida pelo tempo é viável pq se essas facções criminosas crescerem mais um pouco o poder a segurança pública não terá mais forças para combate -los aproveitar os avanços do ministério da justiça e segurança é de suma e fundamental e breve importância não dá mais para adiar pq um ministro assim como Sérgio Moro com garra e coragem de um patriota jamais teremos..

  • Já passou da hora de ser aberta uma CPI do crime organizado no estado de SP. Esta informação do Blog Jogo Sujo sobre o PCC é alarmante.
    Esses bandidos têm 200 postos de combustíveis e o governador João Doria não faz nada. Sai do palanque, Doria, e vá enfrentar como homem o PCC. Que venha CPI de combate aos criminosos. E muito sucesso para o Blog, muito lido pelos meus amigos na minha cidade, a pacata Niterói.