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35 Anos do SUS: Conquistas, Desafios e Caminhos para um Sistema de Saúde Mais Justo

O Sistema Único de Saúde (SUS) completou 35 anos, tendo sido estabelecido dois anos após sua criação, de acordo com a Constituição Federal de 1988. Sua origem foi uma resposta ao anseio por justiça social e pelo acesso equitativo à saúde. Inspirado pelos princípios da universalidade, integralidade e equidade, o SUS tornou-se um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Atualmente, é responsável por cerca de 75% dos atendimentos de saúde realizados no Brasil, abrangendo desde cuidados básicos até procedimentos de alta complexidade, como transplantes de órgãos. O Brasil ocupa a segunda posição mundial em volume de transplantes públicos, ficando atrás somente dos Estados Unidos.

A reputação do sistema é reconhecida internacionalmente, como demonstrado pelo ranking anual publicado pela revista Newsweek, que destacou 22 instituições brasileiras, incluindo sete públicas e 15 privadas, entre as melhores do mundo em diversas especialidades médicas. A avaliação considerou recomendações de profissionais de saúde, dados de acreditação, certificações e indicadores de satisfação dos pacientes.

O papel do SUS durante a pandemia de COVID-19 também evidenciou sua importância. Em um momento crítico, o sistema liderou a campanha de vacinação que imunizou mais de 80% da população com esquema completo, consolidando a expertise do Brasil em imunizações em massa, reconhecida até pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além do atendimento médico, o SUS realiza ações essenciais como o controle de endemias, vigilância sanitária e epidemiológica, distribuição gratuita de medicamentos, saúde mental, saúde indígena e saneamento básico. Essas ações são realizadas em um país de dimensões continentais, com mais de 5.500 municípios e marcadas desigualdades regionais.

Contudo, o sistema também apresenta fragilidades, apontadas por especialistas nacionais e internacionais. Entre elas, estão a desigualdade de acesso, especialmente em áreas rurais e periféricas, os longos tempos de espera e a fragmentação dos serviços, que comprometem sua eficiência. Além disso, há dificuldades no fortalecimento do setor primário, que prioriza a prevenção e é estratégico para a saúde pública.

Outro desafio persistente é o subfinanciamento. Dados do Conselho Nacional de Saúde indicam que o Brasil investe cerca de 9,6% do PIB em saúde, sendo apenas 3,9% recursos públicos, número inferior à média de países com sistemas universais. Para comparação, o Reino Unido investe aproximadamente 7,5% do PIB em saúde. A Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos públicos por 20 anos, agravou essa conjuntura, levando ao êxodo de recursos ao longo de 2018 a 2022, com uma perda estimada de mais de R$ 37 bilhões em investimentos no SUS. Como consequência, há filas para cirurgias eletivas, escassez de médicos em regiões remotas, infraestrutura precária e falta de insumos básicos. Problemas de gestão, corrupção e burocracia também comprometem a eficácia do sistema.

Ao completar 35 anos, torna-se fundamental resgatar o espírito original do SUS — um sistema público, gratuito, eficiente e humano. Para avançar nessa direção, é necessária coragem para enfrentar interesses corporativos e priorizar a vida acima do lucro. Afinal, o compromisso do SUS permanece inabalável: “Saúde é direito de todos e dever do Estado.”

Redação

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