Cassado há quase 20 anos no escândalo do Mensalão, o ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu planeja disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados por São Paulo nas eleições de 2026. A convocação veio do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antigo chefe e companheiro antes mesmo da fundação do Partido dos Trabalhadores. Aos 79 anos, Dirceu se sente preparado para retornar à casa onde atuou por quase quatro mandatos.
Para o ex-deputado, a volta à Câmara seria uma “reparação” pela cassação que vai completar duas décadas no fim de novembro. A perda do mandato na época veio meses após o então deputado Roberto Jefferson denunciar à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção no Congresso Nacional que envolvia Dirceu e outros integrantes do governo do presidente Lula, ainda no primeiro mandato no Planalto. Em 2012, ele foi condenado a 10 anos e 10 meses de reclusão no julgamento do Mensalão, mas foi solto em 2018 pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
Neste domingo, José Dirceu discursou a uma multidão em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, em ato promovido por lideranças e artistas de esquerda contra o Projeto de Lei (PL) da Anistia e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem. Em entrevista exclusiva ao Correio, o ex-ministro criticou a possibilidade de dosimetria ao chamado “núcleo duro do golpe”, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros condenados por tentativa de depor o chefe de Estado. Comentou também sobre o momento atual do governo Lula. Confira:
Eu não posso falar em nome do governo. O que eu pergunto para cada brasileiro é o seguinte: você destrói a Câmara, destrói o Senado e aí os senadores e deputados diminuem as penas? Eles destroem o Palácio Planalto, assaltam o Poder Judiciário e destroem a sede. Tem um plano ‘verde e amarelo’ para assassinar o presidente, o vice e o ministro Alexandre Morais. Quer dizer, Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre Morais. Tentam envolver as forças armadas para dar um golpe. E vão ficar impunes? Vão ter penas diminuídas?
Agora, o que chama a atenção do cinismo deles, da hipocrisia, é que eles sempre pregaram em aumentar as penas. E nós falamos: ‘Isso não resolve, o sistema penitenciário hoje está dominado pelo crime organizado, precisa ser reformado, precisa mudar a política de penas’. Eles são contra a progressão penal, são contra a saída dos presos que são presos vulneráveis ou presos sem violência, sem ameaça grave, sem crime hediondo, sem crime sexual.
Eles querem arrochar cada vez mais e agora querem diminuir as penas para eles? Quer dizer, o trabalhador ou trabalhadora que cometer um delito, eles pregam que dê penas de 20, 30 anos. E para eles que tentaram destruir as sedes dos poderes Legislativo, Judiciário, Executivo e tentaram dar um golpe de estado, vai diminuir a pena? Evidentemente que o Congresso Nacional é soberano para isso, mas lembra que o presidente pode vetar.
A força do governo vem das medidas que ele toma na política dele. O país está crescendo, o emprego e a renda melhorando. O presidente tomou medidas para defender o país do tarifaço, proteger nossa democracia e soberania. Um número maior de brasileiros passou a apoiá-lo. Quando o presidente propõe projetos de auxílio como o Vale-gás, isenções de tarifas de energia, imunidade tributária até determinados limites, muitos brasileiros se identificam com essas propostas e manifestam apoio a Lula. Por outro lado, há quem tenha interesse em manter o status quo e bloquear essas ações.
Por isso, coloquei na manifestação que o fundamental é mudar o Congresso Nacional em 2026. Eu defendo a reeleição do presidente Lula – cada brasileiro fará sua escolha – mas é necessário renovar o Parlamento para que a agenda de reformas seja efetivamente implementada. O país não pode mais ficar parado. O eleitor deve estar consciente de que seu voto pode contribuir para uma mudança real, não apenas protestos, mas uma transformação através do voto.
Fui convocado pelo próprio presidente para concorrer às eleições do próximo ano a deputado federal e retornar ao Congresso. Fui cassado politicamente, uma decisão que considero injusta e que, na minha avaliação, foi uma cassação política. Quero que o povo de São Paulo me dê a oportunidade de exercer novamente meu mandato, especialmente nesta data que marca 20 anos da minha cassação. Essa foi uma injustiça que tirou minha participação na vida política institucional, mas não a minha atuação na política em si. Os deputados que votaram naquela noite sabem disso, e essa história deve ser revista.
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