Jogo Sujo

A importância da resistência contra a blindagem de criminosos na política

O Brasil enfrentou recentemente um episódio de grande gravidade na sua história recente. A proposta conhecida como PEC da Blindagem, criada para proteger políticos de investigações e processos, foi rejeitada pelo Senado Federal. Essa decisão trouxe um alívio momentâneo e demonstrou que, quando a sociedade se mobiliza, é possível evitar retrocessos. No entanto, o risco ainda persiste. A existência mesma dessa proposta, e o fato de ela ter avançado até a votação, representam um alerta que não pode ser ignorado.

A PEC derrotada era uma espécie de escudo especialmente desenhado para beneficiar criminosos inseridos na política. Se tivesse sido aprovada, facilitaria a eleição de representantes de organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho, garantindo-lhes foro privilegiado e imunidade contra a Justiça. Seria uma legitimação da impunidade e uma institucionalização do crime dentro do parlamento — um ataque direto aos princípios democráticos.

Apesar de rejeitada, a tentativa revela a disposição de uma parte significativa da classe política em se alinhar com interesses obscuros. Não se tratava apenas de autoproteção de parlamentares, mas da criação de um novo canal de poder para o crime organizado. Um retrocesso de proporções históricas, que poderia ameaçar o próprio equilíbrio do Estado.

Enquanto isso, a realidade na rua segue dura. Nas periferias, mães choram filhos assassinados, trabalhadores enfrentam assaltos nos ônibus, comerciantes fecham suas portas por medo da violência. Essa deveria ser a prioridade no debate do Congresso Nacional. Contudo, em vez de discutir soluções concretas para a segurança pública, parcela dos parlamentares focou em se proteger, o que evidencia a distância entre Brasília e a população.

A rejeição da PEC não apaga essa contradição. Ao contrário, reforça a percepção de que grande parte do parlamento está mais preocupada em se blindar do que em atender às dores da sociedade. Como consequência, a democracia se torna cada vez mais desconectada do cotidiano de milhões de brasileiros que, embora paguem altos impostos, vivem em situação de insegurança.

Se a proposta tivesse sido aprovada, o custo teria sido elevado demais. Blindar políticos criminosos significaria mais violência nas ruas, maior corrupção pública e menos recursos para saúde, educação e segurança. Na prática, isso condenaria milhões de brasileiros a um país mais desigual, onde o medo domina. Além disso, legitimaria o desvio de recursos para facções criminosas, fortalecendo redes de crime ao invés de proteger as famílias.

O resultado da votação expôs com clareza quem realmente apoia o crime. Deputados que frequentemente discursam em defesa da segurança pública — inclusive integrantes da bancada da bala — não hesitaram em apoiar uma proposta que beneficiaria o crime organizado. Da mesma forma, políticos que se apresentam como defensores dos valores morais cristãos deram sinais de incoerência ao votar a favor da PEC. A máscara caiu, e o eleitor deve lembrar dessas posições para o próximo pleito.

Embora a rejeição no Senado tenha representado uma vitória, é importante reconhecer que, quando uma tentativa de blindagem consegue avançar tanto, o sistema político já está em risco. A democracia não pode se dar ao luxo de respirar aliviada e seguir como se nada tivesse acontecido. A pressão de facções criminosas e grupos de poder continuará, e somente uma sociedade mobilizada pode impedir que o retrocesso retorne sob novas versões e argumentações.

Essa vitória foi possível graças ao movimento popular: manifestações nas redes sociais, pressão direta aos parlamentares e um grito coletivo contra o absurdo. É a prova de que a mobilização social funciona. Mas também serve como um lembrete de que a indignação isolada não basta. É preciso manter-se ativo, atento e vigilante, pois a democracia não se defende em um dia, mas cotidianamente.

A segurança pública hoje é a principal preocupação do povo brasileiro. As vozes das ruas e das redes deixaram claro: não aceitamos retrocessos ou blindagens para corruptos e criminosos. O que queremos são investimentos em investigação, polícia moderna, tecnologia, inteligência e leis que punam sem distinção. O Brasil precisa de uma “blindagem” que proteja o cidadão de bem, e não uma que cubra facções criminosas infiltradas na política.

A PEC da Blindagem foi rejeitada, mas é fundamental lembrar que ela existiu. Foi a maior tentativa de institucionalizar a impunidade no país. Que essa derrota no Senado sirva também de lição permanente: quando o povo cala, o crime avança. Quando o povo reage, a democracia resiste.

Redação

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