Jogo Sujo

De Rosinha a Pezão, MDB do Rio aposta em antigos caciques condenados ou presos após o fim da inelegibilidade

Embora o discurso seja de renovação de quadros para as eleições municipais deste ano, o MDB tem feito movimento de trazer de volta à cena velhos conhecidos da política fluminense. A filiação da ex-governadora Rosinha Garotinho, na próxima semana, mirando uma candidatura no Norte Fluminense engrossa uma lista de antigos caciques, alvos de condenações na Justiça Eleitoral ou acusados de envolvimento em esquemas de corrupção apurados pela Lava-Jato, que disputarão mandato em outubro.

O MDB, que comandou o estado por quase 20 anos, busca retomar o protagonismo com presença em chapas em mais de 70 cidades. Entre os nomes confirmados estão os do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) Paulo Melo e do ex-governador Luiz Fernando Pezão. Em convenção na última quinta-feira, o partido ainda confirmou a pré-candidatura do deputado federal Otoni de Paula à prefeitura do Rio.

— Na política, tiveram muitas fusões, e algumas cidades têm dez opções competitivas. Somos uma legenda de tradição e temos conseguido atrair também novos quadros para o partido, mas sempre buscando nomes competitivos — afirma o presidente estadual da legenda, Washington Reis.

Pezão, que deixou o cargo de governador antes de concluir o mandato, em 2018, tenta voltar ao comando de Piraí, no Sul Fluminense. Ele, que esteve à frente da prefeitura de 1997 a 2004, diz estudar a candidatura, mas só vai bater o martelo em abril. O ex-governador avalia, no entanto, que sua experiência pode ser uma vantagem no pleito:

— Acho que pode fazer diferença, sim. Pelo menos, é o que as pesquisas que estou acompanhando têm indicado.

Em 2018, Pezão foi preso na Operação Boca de Lobo, um braço da Lava-Jato, por suposto recebimento de propina da federação que reúne empresários de ônibus no Rio, a Fetranspor. O emedebista ficou atrás das grades entre novembro de 2018 e dezembro de 2019. No ano passado, porém, o ex-governador foi absolvido após anulação de sentença do então juiz federal Marcelo Bretas.

Punição até a véspera

Após deixar cargos públicos em função de desdobramentos da Lava-Jato, Paulo Melo será candidato à prefeitura de Saquarema, na Região dos Lagos. A reabilitação política será possível porque a condenação que o tornou inelegível por oito anos se encerra em 3 de outubro, três dias antes do pleito. Ele foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) por abuso de poder econômico e político e uso indevido dos meios de comunicação.

O ex-deputado chegou a ser preso pela Operação Cadeia Velha, em 2017, um dos braços da Lava-Jato no estado, após a descoberta de um esquema de corrupção na Alerj em que parlamentares recebiam propina de empresários de ônibus em troca da aprovação de leis de interesse de empresas.

— Eles (MDB) reconhecem nosso valor dentro do contexto partidário, reconhecem a contribuição que todos nós tivemos e demos para o partido e para a política do Rio de Janeiro — disse o ex-deputado.

A filiação de Rosinha ao MDB será na próxima semana. Reis planeja para o mês que vem um novo evento em São João da Barra, município em que a ex-governadora deve concorrer a prefeita. A cidade é vizinha a Campos dos Goytacazes, reduto político da família Garotinho, que teve Rosinha e seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho, como prefeitos. Campos atualmente é governada por Wladimir, filho do casal.

Rosinha enfrentou uma série de condenações na Justiça Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

Em 2019, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a condenação da ex-prefeita de Campos, inelegível por oito anos a contar de 2016. Com isso, ela fica impedida de concorrer a cargos elegíveis até 2 de outubro deste ano. A penalidade foi aplicada por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação na eleição de 2012.

A ida de Rosinha para o MDB coloca Pezão e a ex-governadora, hoje desafetos, lado a lado novamente. O emedebista comandou a Secretaria de Governo da gestão de Rosinha no Palácio Guanabara. A passagem pelo governo Rosinha foi determinante para Pezão ser o vice na chapa vitoriosa de Sérgio Cabral, em 2006, ao Estado.

O rompimento entre Cabral e a família Garotinho sacramentou o afastamento de Pezão, fiel a Cabral. A expectativa é de que a ligação entre Pezão e a família Garotinho no partido seja protocolar.

— Sou amigo do filho, o prefeito Wladimir, mas realmente estou afastado dos pais. Se acontecer (a reaproximação), será por conta do MDB — reconhece Pezão.

Fonte: O Globo

Redação

Comentar