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Influência Internacional na Eleição de 2026: Desafios e Implicações para o Brasil

A eleição de 2026 no Brasil está marcada para o dia 4 de outubro de 2026, e, embora esteja ainda distante, fatores internacionais estão ganhando uma influência sem precedentes no cenário político nacional. Especialistas consideram essa a disputa mais impactada por eventos globais na história recente do país.

O cientista político aposentado da UnB, Paulo Kramer, explica que a política externa e acontecimentos internacionais estão alimentando as campanhas eleitorais, polarizando direita e esquerda.

Um fator importante foi a decisão do ex-presidente Donald Trump de impor tarifas sobre produtos brasileiros, aumentando o custo de exportações e afetando setores estratégicos como carnes, café, frutas, máquinas, móveis, têxtil e calçados. Além do impacto econômico, essa medida teve repercussões simbólicas, colocando o Brasil na mira de narrativas que reforçam a necessidade de recuperação do protagonismo diplomático e redução da dependência dos Estados Unidos. A esquerda brasileira tem investido em uma agenda anti-EUA, fortalecendo alianças com países como China e Venezuela, posicionando o país em um “lado” que, segundo Kramer, pode ser considerado o ‘lado errado’ na crescente disputa entre os EUA e a China.

Paralelamente, a situação da Venezuela e o governo de Nicolás Maduro continuam sendo uma ferramenta usada na política brasileira. Ainda que o país vizinho tenha passado por uma estabilização econômica frágil após anos de crise, o governo chavista é visto como uma referência negativa na argumentação de que o Brasil corre risco de seguir o mesmo caminho se a esquerda persistir no Brasil. O governo brasileiro evita declarações de apoio formal a Maduro, mas mexe com a delicada relação diplomática ao recebê-lo em Brasília e fazer comentários ambíguos sobre a democracia na Venezuela. Tensões aumentaram após denúncias de fraude eleitoral no país vizinho, contribuindo para o desgaste político de Lula e de seus aliados.

Outro tema que influencia a disputa é o conflito entre Israel e Hamas, que, embora distante, carrega implicações políticas para o Brasil. A posição brasileira, tradicionalmente favorável à solução de dois Estados, enfrenta críticas da direita, que apoia incondicionalmente Israel. O conflito em Gaza, iniciado por um ataque do Hamas a Israel, mantém uma crise humanitária grave, com operações militares intensas e uma crise de ajuda humanitária no território, que é cercado desde 2007.

Apesar de toda essa influência internacional, o cenário interno mantém seu peso. Como apontado por Kramer, há uma base social significativa que apoia o atual governo, composta por milhões que dependem de benefícios assistenciais e têm isenções fiscais. Para a direita, é fundamental construir uma narrativa que vá além das considerações externas, demonstrando que o sistema atual, visto como um “condomínio de poder”, funciona contra o Brasil que trabalha, produz e valoriza a liberdade.

Por fim, o país continua vulnerável às pressões do cenário internacional. A ausência de recursos, vontade política e a vulnerabilidade das riquezas naturais deixam o Brasil exposto a conflitos globais e à cobiça de potências como China, EUA e França — especialmente em relação à Amazônia. Assim, a disputa eleitoral de 2026 se revela um palco de tensões internas e externas, cujo desfecho ainda é incerto, mas que certamente será influenciado por fatores fora das fronteiras brasileiras.

Redação

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