Jogo Sujo

Presidente do Ipem é exonerado do cargo após prisão de funcionários por extorsão

O Diário Oficial do Estado traz nesta segunda-feira (10/08) a exoneração do agora ex-presidente do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), o engenheiro Luís Machado dos Santos. A queda de Santos acontece pouco menos de dois meses após ele assumir o cargo. A prisão de oito fiscais da autarquia foi a gota d’água para a sua demissão. De acordo com a Polícia Civil, os servidores — dois de carreira e seis comissionados — eram investigados por se passarem por policiais civis para extorquir dinheiro de empresários e comerciantes na Baixada Fluminense. Entre os presos, está Fábio Mathias Bullos, então chefe de gabinete de Santos no Ipem, que também foi exonerado nesta segunda-feira do instituto. Apos a exoneração, no momento o o órgão está sem presidente.

Luís Machado havia assumido o instituto no lugar do ex-deputado federal Alexandre Valle, que estava no comando da autarquia desde agosto de 2019 e pediu exoneração para se dedicar às eleições municipais. Valle é pré-candidato a prefeito de Itaguaí. No entanto, segundo fontes da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e do Palácio Guanabara, a saída de Valle foi estratégia usada pelo governador Wilson Witzel (PSC).

Na iminência de ser afastado do cargo, Witzel teria oferecido o comando do Ipem para o deputado estadual bolsonarista Renato Zaca (Solidariedade), para que ele votasse contra sua cassação. Zaca tem um bom trânsito entre colegas parlamentares ligados ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que romperam com o governador do Rio. Com a entrega da autarquia ao político, Wilson Witzel espera que ele convença os políticos do

PSL a ficarem contra seu afastamento.

Em junho, Zaca começou a indicar pessoas da sua confiança para a direção do órgão. Entre eles, Luís Machado dos Santos e Fábio Bullos. Bullos, até o dia 18 de junho de 2020, era chefe de gabinete de Zaca. Ele foi exonerado da Alerj e assumiu o mesmo cargo no Ipem com salário de R$ 16.433,34.

Segundo o Portal da Transparência do Governo do Estado, no mês de agosto o agora ex-presidente do Ipem recebeu R$ 16.566,00 em uma matrícula. Na segunda, pelo cargo de presidente no órgão, que é ligado a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, embolsou mais R$ 18.146,77.

Machado disse que “está tranquilo e que nunca teve ligação com os crimes cometidos pelos servidores”.
Questionado sobre um vídeo da Polícia Civil, que mostra o momento em que os investigadores encontram dinheiro de propina no carro da autarquia e um servidor diz que estava lá “a mando do diretor”. Machado afirmou que “não mandou ninguém recolher dinheiro nenhum”.

— Eu nunca tive nada a ver com isso. A empresa funciona de acordo com a lei. Tive conhecimento dos fatos, e agora é aguardar o desenrolar das investigações. Não posso me manifestar sobre algo que não sei. Seria fazer conjectura. Os advogados estão vendo o que aconteceu — afirmou.

De acordo com Luís Machado, a autarquia abriu uma sindicância para apurar o motivo das prisões e o que aconteceu. Segundo ele, o órgão está acompanhando as investigações da Polícia Civil.

— Volto a dizer: não sabia o que estava acontecendo. Vamos apurar com rigor — salientou.

‘Não era meu chefe de gabinete’

Através de uma nota, o parlamentar afirmou que “Bullos nunca foi meu chefe de gabinete, mas um assessor parlamentar”. No entanto, em algumas reportagens,  o político afirmava que Bullos era seu chefe de gabinete. Ele não explicou o motivo da exoneração de Fábio da Alerj e sua transferência para o Ipem. Renato Zaca também não disse se partiu ou não dele a indicação de Luís Machado para a presidência da autarquia.

“Luís Machado é engenheiro e já ocupava a função de diretor do Ipem desde junho de 2018, quando eu ainda nem era deputado estadual” afirmou.

O deputado também foi questionado se havia recebido cargos do governo do estado para votar contra o impeachment de Wilson Witzel, após um encontro no Palácio Guanabara. Renato Zaca confirmou que esteve com o governador, mas garante que a reunião não foi para tratar de cargos, e sim “para buscar melhorias para a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros”.

Por fim, o deputado estadual disse que espera “que os fatos sejam apurados e sigam o rito previsto na lei”.

A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, assim como o Governo do Estado, não se posicionaram.

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Luís Machado terá que dar explicações à polícia

A Polícia Civil vai intimar nesta segunda-feira o agora ex-presidente do Ipem. Os investigadores querem saber a ligação que ele tem com o esquema criminoso. Na manhã de sábado, a reportagem teve acesso a um vídeo do momento da prisão de um dos oito servidores.

— Será intimidado a prestar depoimento hoje. Quero saber se ele tinha conhecimento do que estava acontecendo — afirmou o delegado Mauricio Demétrio Afonso Alves, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a

Propriedade Imaterial (DRCPIM).

No sábado, a Justiça do Rio converteu as prisões em flagrante em preventiva. A decisão é do juiz Alex Quaresma Ravache. A audiência de custódia aconteceu na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. Para o magistrado, em liberdade, o grupo poderia atrapalhar as investigações, praticar outros crimes e “dar continuidade” às extorsões.

Uma advogada do Ipem ainda tentou que os acusados respondessem ao inquérito soltos e pediu o relaxamento da prisão. Segundo a defensora, na audiência de custódia, “houve equívoco na prisão dos servidores”. Entretanto, a Justiça entendeu que não existiu irregularidade nas detenções.

De acordo com o magistrado, “há provas da existência dos crimes e indícios suficientes de autoria, materialidade nos depoimentos das vitimas e testemunhas”.

Relembre o caso

Uma operação da Polícia Civil, na sexta-feira, prendeu oito funcionários do Ipem por extorsão. De acordo com a DRCPIM, empresários e comerciantes estrangeiros estariam entre as vítimas dos fiscais, que foram detidos em flagrante no Feirão das Malhas, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

As investigações apontam que o grupo estaria se passando por agentes da DRCPIM para realizar as extorsões. A informação consta em um inquérito da especializada, que investiga a atuação do bando em todo o estado.
Segundo o delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, titular da DRCPIM, “os servidores gostavam de achacar comerciantes estrangeiros” já que muita das vezes eles não conhecem e não sabem diferenciar órgãos fiscalizadores de polícia investigativa. E, consequentemente, não tinham como argumentar com os falsos policiais.

— Eles se aproveitavam dos estrangeiros, que não falam português corretamente e não entendem das leis brasileiras, para a extorsão. Esses estrangeiros são legais no país, mas muitas vezes vendem produtos piratas, por isso esses fiscais se valiam dessa irregularidade — destacou Demétrio, que afirmou ter ouvido o depoimento de mais de seis vítimas, entre elas quatro indianos.

Além de Fábio Bullos, chefe de gabinete do Ipem, foram presos os fiscais Tancredo Torres de Souza, Leonardo Antunes Xavier, Tiago Lira Gonçalves, Leandro Macedo Peixoto, Marcelo Leite Ribeiro, Mario Jorge Lima de Carvalho e Jorge Oliveira Duarte Júnior. Todos foram indiciados por organização criminosa, quadrilha, extorsão e corrupção.

Um dia após as prisões, o Ipem afirmou que “os funcionários com cargos em comissão foram exonerados e os servidores efetivos foram afastados e responderão à sindicância, cabendo a eles as sanções legais caso seja confirmada a participação nos crimes investigados”. As exonerações de Tancredo de Souza, Leonardo Peixoto, Tiago Gonçalves e Leonardo Xavier tambem foram publicadas na edição extra do DO do estado.

Foto: Divulgação

Redação

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