Jogo Sujo

Senador do MDB que apoiou Bolsonaro adere a Boulos e leva histórico polêmico

Alexandre Giordano, senador de São Paulo pelo MDB, está engajado na eleição para a Prefeitura de São Paulo —mas no time oposto ao do colega de partido Ricardo Nunes. O congressista levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas e rompimentos na política.

Giordano, empresário que era suplente e herdou a cadeira após a morte de Major Olímpio (PSL) por Covid em 2021, é desafeto de Nunes e circula com o psolista desde o ano passado em agendas na capital. Estava, por exemplo, no palanque da filiação de Marta Suplicy ao PT, no mês passado.

Giordano, porém, não foi anunciado no ato em que a ex-prefeita retornou ao partido para ser vice de Boulos, numa articulação de Lula (PT). Ele ficou na lateral do palco, a poucos passos do presidente, a quem passou a apoiar e agora acompanha nas agendas em São Paulo.

O senador já foi do partido de Jair Bolsonaro quando o ex-presidente estava no PSL, mas se distanciou dele e de seu grupo ao se tornar senador. Também foi filiado ao PSDB por influência de Bruno Covas, de quem era amigo, mas não se entrosou com Nunes.

Com a morte de Covas, em maio de 2021, Nunes virou prefeito —e começaram as rusgas com Giordano. O emedebista teria se irritado com o senador por ele ter dito em entrevista à revista Veja São Paulo que “engrossaria o caldo” de Nunes, dando a entender que o MDB tomaria conta da gestão de Covas.

Auxiliares do prefeito contam que Giordano foi recebido por Nunes em apenas uma ocasião e teria insinuado interesse em contratos de varrição, o que desagradou ao mandatário. O senador afirma que não tratou desse tema com o prefeito e que esteve com ele ao menos três vezes na sede da prefeitura.

O rompimento ficou escancarado quando o senador decidiu abrir uma dissidência no MDB em 2023 e se lançar pré-candidato à prefeitura. Na época, Nunes reagiu com desdém: “Quem é Giordano?”, perguntou a repórteres que repercutiam o caso.

Padrinho de Giordano no MDB, o ex-presidente Michel Temer demoveu o senador da ideia, mas o episódio lhe rendeu uma barganha: não seria candidato, mas tampouco apoiaria o nome escolhido pela legenda.

Nunes diz à Folha que pediu ao presidente do MDB, Baleia Rossi, que expulsasse Giordano por causa da aliança com Boulos, mas ouviu que não era o momento. A importância de uma cadeira a mais no Senado para o MDB diminui as chances de retaliação, mas emedebistas afirmam que o colega está isolado na legenda e até esperam que ele saia ou se licencie.

Apesar da trajetória curta no Congresso —ele assumiu o mandato em março de 2021, cinco meses antes de migrar para o MDB—, o empresário acumula uma lista extensa de adversários e acusações que envolvem seu nome.

O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.

Políticos que conviveram com Giordano ou que acabaram se envolvendo em disputas contra ele o descrevem como um lobista —pecha que ele rejeita— que já levou aos governos estadual e municipal sua intenção de participar de contratos de coleta de lixo e aterros sanitários.

Em resposta, o senador diz que nunca atuou na área pública no ramo de resíduos.

Depois de passar fome e começar a vida vendendo cachorro-quente aos 13 anos, segundo conta, Giordano é hoje sócio em sete empresas com atuação variada: estruturas metálicas, mineração, imóveis, coleta de resíduos, terraplenagem, distribuição de energia elétrica, reciclagem, hotel fazenda e outros.

Em 2018, ele declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral, entre participações nas empresas, veículos e jet skis.

O entorno de Nunes considera que a migração do senador para o time rival tem a ver com interesses empresariais que não foram atendidos pelo prefeito ou que Giordano prospecta no governo federal.

Questionado sobre as suspeitas que o cercam e o potencial dano de seu apoio para a campanha de Boulos, o senador diz que o que existe contra ele são “historinhas e não fatos”.

“Não existe nada com materialidade. Querem inventar história para colocar uma pedra no caminho do Boulos. A minha história é a de um bom homem, um bom empresário.”

Membros da pré-campanha de Boulos tratam Giordano como um apoiador, mas evitam atribuir a ele algum papel especial. Atuante na zona norte, ele participou de encontros do deputado federal na região, mas não ganhou uma função específica no comitê.

Apesar do trunfo de contar com um colega de partido do prefeito, a pré-candidatura do PSOL descarta por ora explorar isso para desgastar Nunes. Nos bastidores, a presença do senador é respeitada, mas sua força política é posta em xeque —ele não foi votado diretamente e tem elo frágil com a esquerda.

Em sua página no Instagram, onde posta fotos com o deputado em visitas a hospitais e acampamentos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Giordano já homenageou, por exemplo, Bolsonaro e Olavo de Carvalho, guru da direita brasileira.

Num encontro sobre moradia em 2023, ao lado de Boulos, o emedebista disse que sua credibilidade poderia ser atestada pelo pré-candidato, a quem chamou de “meu companheiro, meu amigo”. Ao resumir os motivos que o aproximaram do psolista, costuma repetir: “Bateu o santo com esse cara”.

Giordano diz que foi ele quem procurou Boulos para uma conversa e, ao conhecê-lo, percebeu logo uma afinidade, com visão comum para problemas sociais. À Folha o senador diz enxergar em Boulos, e não no ex-vice de Covas, os ideais do tucano —e afirma que o postulante do PSOL vai vencer a eleição.

Segundo Giordano, seu papel é ajudar a mudar a imagem de Boulos entre empresários e comerciantes. “É uma classe que entende que ele é um invasor. Boulos nunca invadiu a casa de ninguém. Ao contrário, ele tem visão de empreendedorismo para São Paulo.”

Aliados de Nunes minimizam o apoio do senador a Boulos, lembrando que Giordano não tem base própria. Mas, para o senador, seu capital não é eleitoral —sua função é atuar nos bastidores.

Giordano se define como um político de centro, crítico do flá-flu que se tornou a política brasileira. Ele próprio, porém, passou da base de Bolsonaro, a quem apoiou em 2018, para a de Lula pouco antes da eleição de 2022.

“Minha inteligência me levou mais ao acerto do que ao erro. Eu olhei e falei: Lula vai ganhar. O cosmo conspirou a favor. Eu tinha certeza”, diz sobre a eleição mais apertada desde a redemocratização.

Para Giordano, Nunes “saiu do centro e foi para a extrema direita” ao comparecer ao ato de Bolsonaro no domingo (25). “Ele escolheu um lado. E o Bruno [Covas] odiava o Bolsonaro.”

Polêmicas de Giordano e o que ele diz

Gastos no Senado

O Ministério Público Federal pediu que o STF (Supremo Tribunal Federal) intime o senador após apurar que Giordano gastou R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um dia, o que daria para abastecer mais de 12 veículos. A assessoria do senador diz que a despesa corresponde a dias variados, mas foi faturada na mesma data.

Itaipu

Giordano foi personagem de uma crise diplomática relacionada ao acordo entre Brasil e Paraguai para a compra de energia de Itaipu. Giordano esteve no Paraguai com executivos da empresa brasileira Léros e participou de negociações para a venda de energia excedente a essa firma. As investigações apontam que ele mencionou a família Bolsonaro para se credenciar. Giordano nega que tenha falado em nome de Bolsonaro e que tenha atuado como lobista de Léros, pois ele próprio tem empresas que poderiam entrar no negócio.

Aluguel de sala a Olímpio

Giordano ajudou Major Olímpio a estruturar o PSL em São Paulo, sendo que a sede do partido funcionava no mesmo prédio do escritório do empresário, na zona norte. Na campanha de 2018, o comitê de Olímpio funcionou no escritório e pagou R$ 6 mil a uma empresa de Giordano pela locação. Há quem diga que Giordano financiou a campanha de Olímpio, mas ele nega e explica que deu apoio operacional apenas.

Ceagesp

Quando presidente do Ceagesp, o bolsonarista Ricardo Mello Araújo acusou Giordano de querer entrar no entreposto, fazendo indicações para cargos e pedindo para que uma licitação de coleta de lixo fosse direcionada para sua empresa. O senador diz que queria instalar um programa de sopão no local, mas Araújo impediu. Ele prestou queixa contra Araújo por crimes contra a honra e diz que jamais quis interferir em licitações. Giordano afirma que, pelo contrário, alertou Araújo sobre como economizar R$ 800 mil ao mês no contrato de lixo.

Porto de Santos

Giordano encaminhou ao Ministério de Portos e Aeroportos uma lista de denúncias com casos supostamente de corrupção e propina envolvendo Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS). A atitude do senador foi considerada retaliação à demissão de um aliado dele na APS, que nega as acusações de corrupção e vai processá-lo por denúncia caluniosa e abuso de poder. Giordano diz que não tinha indicados na APS e que apenas pediu explicações depois de ter recebido um dossiê com as acusações.

Empresa transferida a ex-funcionário

A Polícia Civil de São Paulo, segundo o portal Metrópoles, investiga Giordano por ter transferido uma de suas empresas para um ex-funcionário, que reconheceu suas assinaturas nos documentos da movimentação, mas disse não ter conhecimento de que era sócio da firma, que tem uma dívida cobrada na Justiça. Giordano diz que o funcionário sabia da transferência, que foi feita para quitar sua rescisão.

Fonte: Jornal de Brasília

Redação

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