Jogo Sujo

Sarkozy Condenado à Prisão por Corrupção e Financiamento Ilegal de Campanha

Entre 2007 e 2012, Nicolas Sarkozy, então com 70 anos, foi presidente da França, ocupando o mais alto cargo no Palácio do Eliseu. Treze anos depois, nesta quinta-feira (25/9), deixou o Tribunal de Paris na condição de condenado a cinco anos de prisão. A Justiça considerou-o culpado de corrupção, envolvendo um suposto financiamento ilegal de sua campanha eleitoral por parte do regime líbio de Muammar Kadhafi. Acompanhado pela esposa, Carla Bruni-Sarkozy, e pelos três filhos, Sarkozy adotou um tom desafiador ao afirmar: “Vou dormir na prisão com a cabeça erguida. Sou inocente”. Ele também classificou a condenação como uma “extrema gravidade para o Estado de Direito” e uma “injustiça insuportável”.

Com a decisão, Sarkozy passa a ser o primeiro ex-chefe de Estado francês a ser preso. A condenação por associação criminosa se soma a outras duas por corrupção, tráfico de influência e financiamento ilegal de campanha. Apesar de ter perdido a honraria da Legião de Honra, nunca chegou a cumprir uma prisão de fato antes. Agora, nem mesmo recursos poderão evitar que ele cumpra a pena, com a data de início a ser anunciada em 13 de outubro. Anteriormente, uma tentativa de suborno a um juiz, sete anos atrás, levou à sua condenação de um ano de prisão em 2021, mas ele pôde permanecer em casa sob vigilância eletrônica.

Além da pena de prisão, Sarkozy deverá pagar uma multa de 100 mil euros (cerca de R$ 626 mil). A juíza Nathalie Gavarino declarou que o ex-presidente permitiu que colaboradores próximos atuassem junto à ditadura de Kadhafi com o objetivo de obter apoio financeiro. A promotoria afirma que Sarkozy recebeu milhões de euros de fundos ilícitos de Trípoli, e que, em troca, prometeu ajudar Kadhafi a melhorar sua reputação internacional. Jean-Michel Darrois, advogado de Sarkozy, admitiu que seu cliente está abalado com a decisão e destacou os efeitos práticos para sua família, alegando surpresa com o veredicto.

Segundo o cientista político Jean-Yves Camus, a condenação não se baseia em provas de participação direta de Sarkozy em atos de corrupção, mas sim em uma disposição do Código Penal que pune a preparação ou ação ilegal relacionada a atividades associadas ao financiamento ilícito. Sarkozy teria tomado iniciativa ou tolerado a viagem de seus assessores à Líbia para tratar de financiamento, o que leva a uma culpa por associação, mas isso não estaria suficiente para uma sentença tão severa.

Nicolas Sarkozy, conhecido por suas declarações contundentes e por uma postura linha-dura contra criminalidade, migrantes e o islã, construiu sua carreira com uma imagem de “presidente dos ricos” e amante do ostentação. Durante sua gestão, entre 2007 e 2012, foi marcado por uma personalidade enérgica e por episódios polêmicos, como a frase “Casse-toi pauvre con!”, além de ter sido o primeiro presidente francês a se divorciar em mandato e a se casar com Carla Bruni, com quem teve uma filha. Sua origem não é da alta burguesia; filho de um migrante húngaro e criado por sua mãe e avô grego, apresentou um perfil político diferente, chegando ao cargo máximo em sua primeira tentativa, aos 52 anos.

Apesar de sua reputação de figura enérgica, críticos o acusam de impulsividade, e ele foi alvo de controvérsias envolvendo sua relação com dinheiro e a exposição da vida privada. Ainda assim, sua influência na política francesa ainda é significativa. Há rumores de que, com sua condenação, poderá se posicionar de forma de vingar-se politicamente ou apoiar candidatos de sua preferência nas próximas eleições, como Marine Le Pen.

Redação

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