Jogo Sujo

Derrota no Senado Estraga Plano de Milei e Revela Crise Política na Argentina

Javier Milei estava a 9,8 mil quilômetros de Buenos Aires quando sofreu uma importante derrota após 635 dias de governo. O Senado argentino, por 63 votos a favor e apenas sete contrários, reviu um veto do presidente e tornou uma lei inapelável, permitindo mais recursos financeiros para pessoas com deficiência. Essa revogação do veto só ocorreu porque a medida precisava de dois terços dos votos (47 de 70 senadores) para ser aprovada. Anteriormente, em agosto, a Câmara dos Deputados também havia rejeitado o veto presidencial.

A votação no Senado coloca em dúvida o apoio político de Milei no Legislativo, principalmente em um momento de crise para seu governo. O Executivo tenta desassociar-se de escândalos de corrupção, especialmente envolvendo a Agência Nacional de Deficiência (Andis), do qual sua irmã, Karina Milei, aparece em áudios ligados ao recebimento de propina. Em uma visita breve a Los Angeles, Milei não comentou o revés na votação, e agora enfrentará uma nova etapa: as eleições na província de Buenos Aires, o distrito mais populoso do país, governado pela oposição peronista.

Na rua do Congresso em Buenos Aires, várias pessoas beneficiadas pela lei comemoraram a decisão do Senado. Pintores e profissionais que lidam com deficiência manifestaram esperança e satisfação, enquanto se espera que o governo possa recorrer judicialmente da decisão. Milei já antecipou essa possibilidade, afirmando que judicializará a questão, garantindo que isso não afetará os gastos públicos.

Especialistas políticos avaliam a decisão do Congresso como de grande impacto e um sinal do momento de instabilidade política e social que atravessa o país. Desde 2003, o Legislativo não tinha rejeitado um veto presidencial dessa forma. O governo de Milei, que assumiu em março, tem enfrentado dificuldades, com a maioria das votações legislativas sendo derrotado desde abril.

A decisão do Senado reflete também o clima de crise envolvendo a credibilidade do governo e seu distanciamento das expectativas sociais, especialmente diante de denúncias de corrupção e de uma economia parada. Pesquisadores destacam que a maioria dos legisladores entrou na votação sensível sem apoio popular suficiente, principalmente considerando o perfil emocional da sociedade e os debates sobre temas que antes eram considerados incontestáveis, como direitos de pessoas com deficiência, aposentadorias e a educação pública.

Analistas explicam que a perda de força de Milei nas negociações legislativas decorre do desgaste causado pelo escândalo envolvendo sua irmã, Karina, além de uma postura confrontacional e falta de sensibilidade, que afastou parte do eleitorado. A economia estagnada e a crise de confiança também contribuíram para uma desaceleração de sua popularidade.

Outra análise aponta que a atuação do governo e as expectativas de reintegração de possíveis candidatos também influenciaram a votação, mostrando a fragilidade do apoio de Milei. O descontentamento social com sua gestão e sua fala agressiva parecem ter atingido um ponto crítico, dificultando a aprovação de suas propostas.

No cenário político, essa rejeição ao veto indica uma tendência de frear iniciativas do Executivo e representa uma fratura institucional inédita desde 2003, fortalecendo o papel do Legislativo como contrapeso. A derrota no Senado também revela a crescente perda de apoio do público ao governo, o que aumenta o desafio de Milei no próximo ciclo eleitoral, particularmente nas eleições legislativas de outubro, cujo resultado poderá definir o ritmo de sua gestão.

Redação

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