Jogo Sujo

 Investigação partiu do gabinete do procurador-geral, com ciência de Bolsonaro, diz Witzel

Alvo de investigações da Operação Placebo da Polícia Federal, o governador do Rio, Wilson Witzel, afirmou que a ação foi ordenada pelo gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras, com a ciência do presidente Jair Bolsonaro. Na terça-feira (26/05) a PF deflagrou uma ação e cumpriu 12 mandados de busca e apreensão no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo, entre outros locais.

Em entrevista ao jornal “Bom Dia Rio”, da TV Globo, Witzel voltou a negar qualquer envolvimento no esquema de fraudes na saúde, assim como as informações de que empresas atendidas pela primeira-dama, Helena Witzel, estejam ligadas por contrato com o governo do estado. “Vou tomar providências junto ao Senado, ao Conselho Nacional do Ministério Público. Chegou ao meu conhecimento que essa investigação partiu de dentro do gabinete do procurador-geral da República, com aquiescência do presidente da República. Uma narrativa fantasiosa e com uma busca e apreensão que não resultou em absolutamente em nada. E nós vamos desmontar tudo”, disse o governador.

Witzel acrescentou: “Estão jogando meu nome na lama de forma absolutamente inadequada. Isso é uma farsa, é uma perseguição política, vou desmontar essa farsa. Eu vou tomar providências junto ao Senado. Se essa investigação partiu de conluio do procurador-geral da República para induzir ao erro o ministro, que nada, nada vai ser encontrado, responsabilidades terão que ser assumidas pelo procurador-geral da República e pelo presidente.

Witzel ainda explicou que sua mulher já está montando uma defesa. A empresa citada que é cliente da primeira-dama e tem contrato com o governo é a DPAD Serviços Diagnósticos. O MPF informou ao STJ que “novo compartilhamento de provas proveniente da Justiça Federal do Rio de Janeiro demonstra vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira-dama do estado e as empresas de interesse de M.P. (Mário Peixoto), em especial o contrato de prestação de serviços e honorários advocatícios entre seu escritório de advocacia e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos LTDA, bem como comprovantes de transferência de recursos entre as duas empresas”. Na operação da PF, documentos foram encontrados no escritório de Helena Witzel.

“Eu desconheço essa documentação apresentada. Helena não tem nenhuma empresa que mantém contrato com o governo. Ela tem esse cuidado para exigir que qualquer cliente que apresente uma documentação. Isso tudo será apresentado. Ela está preparando a defesa dela hoje. Temos a convicção de que isso é uma perseguição política”, afirmou.

Em encontro com apoiadores, nesta manhã, Bolsonaro foi indagado sobre a operação da Polícia Federal tem Witzel como alvo, e afirmou que “enquanto for presidente, vai ter mais (operação)”. O presidente disse, ainda, que o fato de ter ciência nas ações da PF “não é informação privilegiada”.

Atrasos nos hospitais de campanha

Witzel ainda foi indagado sobre os atrasos na entrega dos hospitais de campanha do estado. No total, o governo do Rio empenhou cerca de R$ 1 bilhão para fechar contratos emergenciais, sem licitação, para o combate da Covid-19.  Os valores seriam destinados para a compra de respiradores, máscaras e testes rápidos. A maior parte deste dinheiro, quase R$ 836 milhões, seria destinada para a Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), responsável pelo Hospital de Campanha do Maracanã e pelas outras sete unidades que ainda não foram entregues.

O governador negou que tenha perdido o controle no combate à pandemia. Porém, só o hospital de campanha do Maracanã está em funcionamento, mesmo com denúncias de irregularidades por parte dos profissionais. Witzel tinha prometido inaugurá-los até 30 de abril. O de São Gonçalo deve ser aberto nesta quarta.

“Não perdemos o controle. Precisam chamar as pessoas para esclarecerem corretamente para não serem induzidos no erro. Chama o engenheiro para explicar a dificuldade de profissionais, de médicos, de estudo. O mundo inteiro está vivendo a pandemia. São contratos sem licitação, mas têm procedimentos para contratação emergencial, não é uma coisa que você olha e compra. Estamos fazendo o máximo que podemos fazer, estamos vencendo todas a adversidades, ainda sofrendo com esses ataques políticos e de perseguição, que inibem a nossa ação. A União não está nos dando nenhuma ajuda, os ministros da Saúde. Só não está pior porque os governadores assumiram o protagonismo, se não tínhamos corpos empilhados nas ruas, e as pessoas estariam sofrendo”, disse.

Em nota, a Iabas informou que a abertura do hospital de campanha de São Gonçalo foi prejudicada pela operação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal nos escritórios do instituto.

“Os policiais apreenderam indistintamente computadores e documentos, prejudicando a aquisição de medicamentos e equipamentos de proteção individual que e não puderam ser comprados devido ao embaraço causado pela operação. A operação impediu que o Iabas antecipasse a entrega do hospital para o dia 26 e cumpre hoje o cronograma de entregar o hospital nesta quarta-feira à Secretaria de Estado da Saúde. A unidade começará a receber pacientes na manhã de quinta-feira”, diz o comunicado.

Avaliação positiva da Covid-19

Mesmo com atrasos na entrega de hospitais, reclamações e denúncias de profissionais, e uma investigação no esquema de corrupção da saúde, Witzel ainda avalia seu trabalho no combate à Covid-19 como positivo.

“Eu avalio muito positivo. Nós fizemos várias ações. Eu fui o primeiro a adotar as medidas no Brasil. Não perdemos controle nenhum. Nós inauguramos mais de 1.400 leitos desde o dia 15 de março. Quando eu decretei o lockdown, nós tínhamos zero leito de Covid-19”, afirmou.

O governador ainda defendeu seu ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que também foi um dos alvos da PF na Operação Placebo. O médico foi exonerado há duas semanas, mas assumiu a Secretaria Extraordinária de Acompanhamento das Ações Governamentais Integradas da Covid-19. Witzel negou que criou a pasta para manter o foro privilegiado a Edmar.

“O Dr. Edmar estava se dividindo entre administrar a secretaria, verificar todos os fatos, e olhar especificamente o que estava acontecendo com o empresariado. O Dr. Edmar estava sobrecarregado. Em hipótese alguma. Foro privilegiado não é garantia de impunidade para ninguém, muito pelo contrário. Com duas estruturas, fica mais fácil de a gente trabalhar”, disse.

Foto: reprodução redes sociais

Redação

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