Jogo Sujo

MP investiga vídeos de Cláudio Castro em encontro com empresário preso; delator cita propina de R$ 100 mil

Imagens mostram Claudio Castro, quando era vice-governador, em um encontro em que ele teria recebido cerca de R$ 100 mil em propina de empresa investigada, segundo um delator. As imagens e documentos foram obtidos pela GloboNews.

Segundo o Ministério Público, Cláudio Castro é suspeito de receber propina de uma empresa que tinha contratos milionários com o governo. Ele nega as acusações.

Os investigadores analisaram câmeras de segurança de um shopping na Barra da Tijuca onde funciona a Servlog Rio, que segundo o Ministério Público pagava propina por contratos com a Fundação Leão XIII, do governo do estado, para atendimento oftalmológico e distribuição de óculos para a população de baixa renda.

A suspeita de corrupção no contrato fez o MP fazer uma operação que ganhou o nome de “Catarata”.

A reunião

Em 29 de julho de 2019, às 9h15, o então vice-governador Cláudio Castro chegou com uma mochila ao Shopping Downtown. Não era um evento público, e a visita não aparece na agenda oficial.

Às 9h26, Castro espera o elevador. Em seguida, entra em cena o empresário Flávio Chadud, dono da Servlog Rio. Os dois sobem juntos em direção à sede da empresa.

A operação foi no dia seguinte ao encontro entre o vice-governador e Flávio Chadud, que foi preso.

A Polícia Civil também prendeu, com mandado judicial a pedido do MP, Bruno Campos Selem, administrador da Servlog e braço-direito de Chadud.

Selem confessou os crimes e fechou um acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em fevereiro desse ano. Ele deu detalhes do esquema e envolveu diretamente o nome de Castro no desvio de dinheiro público.

Em depoimento, o funcionário da Servlog disse que “no dia 29/07/2019, véspera da prisão dele (do depoente) e de Flávio Chadud na Operação Catarata, Cláudio Castro foi até o escritório da Servlog, no Shopping Downtown, e recebeu das mãos de Chadud o pagamento de propina”.

Bruno Selem calcula “que Cláudio Castro tenha recebido cerca de R$ 100 mil em espécie, naquela ocasião, pois constatou que este era o valor aproximado que faltava no cofre da empresa após reunião de Flávio e Cláudio”.

O delator contou que “havia sido o último a acessar o cofre da empresa, pois Flávio Chadud estava viajando desde o início de julho, tendo retornado ao trabalho somente na manhã do dia 29 de julho” – dia da reunião.

E que “na última vez que acessou o cofre havia aproximadamente R$ 300 mil e, no dia 30 de julho, antes da chegada da polícia ao escritório, verificou que havia cerca de R$ 170 mil no cofre, razão pela qual pode estimar o valor recebido por Cláudio Castro na véspera”.

O delator contou aos investigadores que “não viu a entrega do dinheiro, mas tem certeza que tal fato ocorreu, pois na manhã daquele mesmo dia Flávio Chadud perguntou a ele qual era o valor total líquido das notas fiscais recebidas pela Servlog e pagas pela Fundação Leão XIII, com o claro objetivo de calcular o valor da propina”.

O depoimento revela que, até aquele momento, quase R$ 900 mil haviam sido pagos para a Servlog, e que, segundo o delator, esse valor serviu de base para Flávio Chadud calcular o valor da propina a ser paga para Cláudio Castro.

Em outro trecho do depoimento, Selem afirma que “também tem certeza da entrega da propina para Cláudio Castro no dia 29 de julho, pois o próprio Flávio Chadud disse ao depoente, quando estavam presos, na mesma cela em Benfica, que o pagamento havia sido feito na véspera, sendo que o depoente presenciou Flávio e Cláudio Castro sozinhos dentro da sala”.

No relatório da polícia, os investigadores afirmam que, “da análise cronológica das imagens, é possível estabelecer que Bruno Selem esteve no local em que afirmou ter sido realizado pagamento de propina por Flávio a Cláudio Castro, sendo certo que Bruno pode ser visto chegando ao local, aproximadamente seis minutos após Flávio Chadud e Cláudio Castro chegarem ao local e, aproximadamente, uma hora antes de Flávio Chadud e Cláudio Castro deixarem o local, por volta de 10h33”.

A saída do vice-governador foi registrada pelas câmeras de segurança. O relatório destaca que Cláudio Castro desembarca do elevador, às 10h33, com uma mochila na mão esquerda.

Os investigadores dizem que, às 10h34, “é possível visualizar que Cláudio Castro cumprimenta discretamente Flávio Chadud com um toque nas mãos”.

Bruno Selem aponta na delação que a relação entre o agora governador em exercício e o empresário Flávio Chadud começou bem antes do encontro na sede da empresa, no shopping da Barra da Tijuca.

O delator afirmou “que, na condição de vereador, Cláudio Castro recebia propina do projeto Qualimóvel, executado pela Servlog no âmbito da Subsecretaria Municipal da Pessoa com Deficiência”.

Castro foi vereador na cidade do Rio de Janeiro entre 2017 e 2018. Em 2019, assumiu o cargo de vice-governador na chapa de Wilson Witzel.

O depoimento do delator continua: “Por já ter se beneficiado por pagamento de propina pela Servlog no âmbito municipal e por ter ciência de que havia projetos sendo executados pela Servlog no âmbito estadual, Cláudio Castro puxou a Fundação Leão XIII para a Vice-Governadoria no início de janeiro de 2019, com o objetivo de continuar o recebimento de vantagens indevidas por meio do projeto novo olhar da Servlog”.

Bruno Selem contou ao Ministério Público que “se encontrou com Cláudio Castro, vice-governador eleito, em 23/12/2018 na praça de alimentação de um shopping, na Barra da Tijuca, para entregar planilhas da Fundação Leão XIII; e que essas planilhas serviriam para que Cláudio Castro pudesse dimensionar o potencial de recebimento de propina nos contratos”.

Na sexta-feira (11), o empresário Flávio Chadud foi preso pela segunda vez, na segunda fase da Operação Catarata.

O secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, e a deputada federal Cristiane Brasil também foram presos, acusados de receber propina. Pedro Fernandes foi exonerado nesta quarta-feira por Cláudio Castro, em decreto publicado no Diário Oficial.

O que dizem os citados

A Globonews procurou a assessoria do governador em exercício e perguntou se Cláudio Castro gostaria de gravar entrevista sobre o teor da reportagem. Ele preferiu se manifestar por meio da seguinte nota:

“O governador em exercício Cláudio Castro afirma que é mentirosa a especulação do delator Bruno Selem de recebimento de propina. Além disso, esclarece que jamais encontrou o delator no escritório da referida empresa. É importante frisar que, apesar de conhecer o Sr. Flávio Chadud, Cláudio Castro determinou, logo no início de sua gestão, o corte na ordem de R$ 7 milhões no contrato do empresário com o Governo do Estado. Vale ressaltar que o governador não é objeto desta investigação e que o vazamento inescrupuloso de dados protegidos por sigilo é crime amparado pela nova lei de abuso de autoridade.”

A defesa da ex-deputada federal Cristiane Brasil reafirmou o que disse no dia da Operação Catarata, em 11 de setembro — que a denúncia não tem fundamento e trata-se de uma tentativa clara de perseguição política.

Foto: Divulgação

Redação

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