Jogo Sujo

MPF investiga presidente da Alerj em esquema de corrupção envolvendo cidades do interior

O Ministério Público Federal (MPF) investiga o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT) em um esquema de corrupção envolvendo cidades do interior do estado.

Segundo os promotores, a Alerj devolvia sobras do orçamento para o Governo do Estado e este, por sua vez, repassava a verba para o Fundo Estadual de Saúde que o transferia aos fundos municipais de cidades indicadas pelos deputados – quase sempre redutos eleitorais ou municípios onde esses parlamentares tinham interesses políticos.

Nesse ponto, o dinheiro retornava às mãos dos deputados sob a forma de propina. Dentro dessa movimentação, apenas em 2019 a Alerj repassou R$ 106 milhões.

De acordo com os procuradores, após esses repasses, André Ceciliano teria procurado o então secretário de Saúde Edmar Santos para indicar quais municípios deveriam receber esse dinheiro.

Todas essas informações constam na delação premiada de Edmar Santos.

Ceciliano foi um dos alvos da operação de busca e apreensão feita na sexta-feira (28) pela Polícia Federal que resultou no afastamento do governador Wilson Witzel. Os agentes estiveram em seu gabinete e também apreenderam seu telefone celular.

Segundo o MPF, a mudança de governo em 2018 não acabou com o esquema de corrupção na Alerj.

O protagonista desse esquema aprimorado, dizem os promotores, seria o atual presidente da Casa, André Ceciliano.

Segundo os procuradores da República, a cidade de Carapebus recebeu menos de R$ 70 mil nos últimos anos, mas apenas em abril de 2020 foi agraciado com R$ 5 milhões.

Já o município de Campos, que em 2019 não tinha recebido mais de R$ 900 mil, em novembro de 2019 recebeu um valor próximo de R$ 11 milhões.

Repasses maiores que a média também teriam sido feitos a Bom Jesus do Itabapoana e São Fidélis.

Para os investigadores, esse favorecimento ao Norte Fluminense é compatível com as declarações de Edmar Santos, que afirmou ter recebido orientações de Ceciliano a seguir determinações de Rodrigo Bacellar sobre os municípios que seriam beneficiados com as doações da Alerj.

O deputado Rodrigo Bacellar é líder do Solidariedade no Norte, Noroeste Fluminense e Região dos Lagos. Por isso Campos, onde Ceciliano e Bacellar possuem interesse político e procuram emplacar candidato próprio à prefeitura, foi uma das cidades prestigiadas pela dupla.

Na denúncia, os procuradores citam outro trecho da delação de Edmar Santos que fala sobre as Organizações Sociais (OSs) de saúde. Eles dizem que as OSs ganham contratos com o governo já compromissadas com a disponibilização de vagas para indicados políticos.

Segundo Edmar, 10% dos cargos em UPAs e hospitais poderiam ser oferecidos com o objetivo de angariar apoio políticos.

O responsável por oferecer cargos a parlamentares seria Clayton Rodrigues, ex-secretário de Governo e ex-chefe de Gabinete do agora governador afastado Wilson Witzel.

Edmar afirma que essa função também foi do secretário da Casa Civil André Moura. Edmar garante que as OSs Lagos, Mahatma Gandhi e Idab aceitaram currículos e empregaram funcionários indicados por parlamentares.

André Ceciliano afirmou que a Alerj devolveu mais de R$ 400 milhões ao governo porque o Estado estava com problemas de caixa. Ele negou que tenha pedido recursos para fins ou meio ilícitos.

Rodrigo Bacellar disse ter recebido com surpresa o conteúdo da delação de Edmar Santos e afirmou que eles estiveram juntos em poucas reuniões.

Clayton Rodrigues negou as acusações.

O secretário da Casa Civil André Moura disse que recebeu com surpresa ação de busca e apreensão na casa dele, em Sergipe, e que os agentes nada encontraram.

O Idab afirmou que a contratação de pessoal é feita por seleção criteriosa.

Foto: Alerj

Redação

Comentar