Jogo Sujo

Sob Bolsonaro, Brasil mantém desempenho ruim em ranking de percepção de corrupção

Ranking anual da Transparência Internacional sobre percepção da corrupção compara 180 países ou territórios. Brasil ficou 94ª posição em 2022, empatado com a Argentina, Etiópia, Marrocos e Tanzânia

No ranking anual da Transparência Internacional sobre percepção da corrupção, levantamento que compara notas atribuídas a 180 países ou territórios, o Brasil ficou 94ª posição em 2022, empatado com a Argentina, Etiópia, Marrocos e Tanzânia.

Nessa posição, o Brasil está mais próximo do grupo de países classificados como “altamente corruptos” do que da lista das nações percebidas como “íntegras”.

A nova versão do relatório do Índice de Percepção da Corrupção (IPC) atribui nota 38 ao Brasil, numa escala que vai de 0 a 100. Nessa régua, quanto mais próximo de 100, mais íntegro; quanto mais próximo de 0, mais corrupto. Em 2021 o Brasil também tinha marcado 38 pontos.

Nesse ranking, os países percebidos como os mais íntegros são Dinamarca, com 90 pontos, Finlândia e Nova Zelândia, empatados com 87. Dos países da América Latina, o mais bem colocado é o Uruguai, com 74 pontos, empatado com Canadá, Estônia e Islândia.

No pé da lista, apresentados como os países percebidos como os mais corruptos, estão Somália, com 12 pontos, e Sudão do Sul e Síria, empatados com 13 pontos. A Venezuela, o pior do continente americano, marcou 14 pontos.

O relatório traz quatro recomendações genéricas para a redução da corrupção global. A primeira é reforçar os freios e contrapesos e promover a separação dos poderes. A segunda é divulgar informações e garantir o direito de acessá-las. Outra indicação é regulamentar o lobby e promover acesso aberto aos processos decisórios. Por último, combater as formas transnacionais de corrupção.

O documento é pouco específico ao tratar da metodologia usada para atribuir notas aos países. Em um determinado trecho, afirma que o IPC “agrega dados de diversas fontes que fornecem as percepções do setor privado e de especialistas acerca do nível de corrupção no setor público”.

Mais adiante, menciona que os índices são baseados “em 13 fontes de dados independentes” e que “para ser incluído no IPC, o país ou território precisa ter sido avaliado por pelo menos três fontes”.

O relatório não informa quem são e nem quantos são os agentes do setor privado e os especialistas que participam da elaboração das notas, não especifica quais são as 13 fontes de dados independentes usadas para compor a pontuação e nem quantas ou quais fontes fora adotadas para cada país.

Críticas ao governo Bolsonaro

Num segundo documento, a Transparência Internacional apresenta um relatório descritivo específico sobre o Brasil com severas críticas ao governo Jair Bolsonaro, encerrado em 31 de dezembro de 2022.

O estudo afirma que, com o fim do mandato de Bolsonaro, encerra-se também “um processo de desmanche acelerado dos marcos legais e institucionais anticorrupção que o país havia levado décadas para construir”.

Segundo o documento, o Brasil sob Bolsonaro “sofreu degeneração sem precedentes de seu regime democrático, culminando nos ataques de 8 de janeiro aos prédios da Praça dos Três Poderes, que chocaram o mundo”.

Na sequência, a Transparência Internacional avalia que “acuado desde a posse pela corrupção fartamente comprovada da família”, a prioridade de Bolsonaro “passou a ser […] garantir sua blindagem, o que fez através da neutralização do aparato institucional e legal que o ameaçava”.

“O desmonte do pilar de responsabilização jurídica ocorreu pela ingerência sistemática e perda de independência do ecossistema de controle: PGR, PF, CGU, AGU, Abin e Receita Federal”, prossegue.

“A peça central do desmonte […] foi a nomeação do Procurador-Geral da República Augusto Aras, que não apenas desarticulou o enfrentamento à macrocorrupção, mas foi também responsável por uma retração histórica nas funções de controle constitucional dos atos do governo”.

As consequências da omissão da PGR “vão muito além da corrupção”, diz a instituição, que acusa o órgão de “assistir inerte à gestão criminosa da pandemia da covid-19 […]; desmonte doloso da governança ambiental […]; além dos ataques permanentes às instituições democráticas”.

O documento também fala em compra do bloco parlamentar conhecido por Centrão, “redução drástica” da transparência e do acesso à informações públicas, extinção dos espaços institucionalizados de participação social, disseminação sistemática de “fake news” e discursos de ódio, financiamento oculto de milícias digitais, alocação de verbas de publicidade oficial para veículos de desinformação e mídia oficialista, ataques permanentes a ativistas, acadêmicos, artistas e jornalistas e estruturação de aparato clandestino de espionagem “com conversão da Polícia Rodoviária Federal em verdadeira guarda pretoriana”.

Fonte: Valor Econômico

Redação

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