Jogo Sujo

Domingos Brazão indicou companheira de miliciano para cargo na Alerj, revela documento apreendido pela PF

Um documento apreendido pela Polícia Federal no gabinete de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) revelou que o acusado de ser um dos mandantes dos homicídios de Marielle Franco e Anderson Gomes indicou a companheira de um dos chefes da milícia de Rio das Pedras para um cargo na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Um papel encontrado pelos agentes no local tinha a ordem “favor fazer essas modificações” seguida de uma série de nomes e cargos. Um dos nomes, manuscrito, era o de Katia Lenise Fontôra Pereira, acompanhado da palavra “Fininho” entre parênteses.

Segundo a PF, Kátia é a mãe da filha do ex-PM Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho, preso em 2019 na Operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio (MPRJ), e condenado a cinco anos de prisão por ser um dos chefes do grupo paramilitar que domina Rio das Pedras. Em janeiro de 2017, Katia de fato foi nomeada para o cargo de Assistente no Departamento de Gestão de Benefícios da Alerj.

Brazão foi deputado estadual até 2015, quando foi eleito conselheiro do TCE. Já Katia permaneceu no cargo até junho de 2019, cinco meses após a prisão de Fininho, quando foi exonerada “a pedido”. “A nomeação era cota de Fininho, notório líder da organização criminosa que controla Rio das Pedras”, escreveu a PF num relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e obtido pelo GLOBO. Fininho também é apontado na delação do ex-PM Ronnie Lessa — assassino confesso da vereadora — como responsável por fornecer a submetralhadora HKMP5 utilizada no crime.

Outros laços entre a família Brazão e o miliciano foram expostos pela investigação do Caso Marielle. A quebra do sigilo telefônico de Fininho revelou que o deputado estadual Chiquinho Brazão, irmão de Domingos e também preso sob a acusação de ter mandado matar Marielle, era um de seus interlocutores entre os anos de 2016 e 2018. Fininho também aparece ao lado de Domingos Brazão numa foto feita durante uma visita do político a Rio das Pedras e anexada à investigação.

Em depoimento prestado à PF em março de 2019 — durante a Operação Nevoeiro, que apurou a tentativa de sabotagem da investigação do Caso Marielle —, Domingos Brazão afirmou que conhece Fininho “em razão da atuação deste no campo de futebol de Rio das Pedras, porém jamais foi assessor do declarante e nem atua diretamente em apoio político a sua família”.

Na última terça-feira, a Procuradoria Geral da República (PGR) ofereceu denúncia ao STF contra os irmãos Brazão; o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do estado; e o policial militar Ronald Alves de Paula, ex-chefe de uma milícia, pelos homicídios de Marielle e Anderson. O soldado da Polícia Militar Robson Calixto Fonseca, ex-assessor de Domingos Brazão na Alerj e no TCE, também foi denunciado pelo crime de associação criminosa.

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Redação

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