Jogo Sujo

Ex-secretário de Saúde depõe coberto em um lençol: “Nenhuma OS é lícita no Rio”

Edmar Santos

O ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Edmar Santos, prestou depoimento no início desta tarde (07/4) ao Tribunal Especial Misto que julga o impeachment de Wilson Witzel envolto em um lençol vermelho e coberto por biombos e cartazes. A defesa do delator quis preservar a sua imagem, alegando segurança para ele e a família. A imprensa foi proibida de registrar imagens e de transmitir o depoimento.

Após demitir seus advogados, em uma manobra mal sucedida para adiar o julgamento, o próprio governador afastado fez o interrogatório como autoadvogado de defesa. O depoimento de Edmar Santos durou cerca de 1h40.

Edmar Santos afirmou ter alertado o então governador Witzel sobre os riscos de reabilitar a Organização Social (OS) Unir Saúde, que estava impedida de firmar contratos com o governo do estado. Desde o governo Sérgio Cabral, a Unir administrava as UPAs de Botafogo e de Nova Iguaçu, entre outras unidades. Em outubro de 2019, após pareceres jurídicos da Secretaria de Saúde e da Casa Civil, a OS foi desqualificada por incapacidade na prestação de serviços médicos. No entanto, em março de 2020, Witzel decidiu ignorar os pareceres e restituiu à Unir o direito de assinar contratos com o governo do estado.

“O senhor [Witzel] falou que iria requalificar a Unir, e eu disse que seria um ‘batom na sua cueca'”, afirmou Edmar diante de Witzel, durante o depoimento.

“Nenhuma OS atua de forma lícita na área da Saúde”

Sobre a credibilidade das Organizações Sociais que administravam unidades de Saúde no estado fluminense, o ex-secretário de Estado foi taxativo:

“Não existe nenhuma OS que trabalhe de forma lícita”, ressaltou.

Outra revelação trazida por Edmar Santos é a influência do Pastor Everaldo, presidente do PSC (Partido Social Cristão), em nomeações da Saúde. O delator explicou ainda que a nomeação de Gabriell Neves para a Subsecretaria de Saúde “foi um pedido do Pastor Everaldo”.

“Não foi minha escolha. Foi um pedido do Pastor Everaldo, em função de eu estar embarreirando uma série de improbidades que eles queriam fazer. Passei a ser um obstáculo.”

Edmar também teria avisado Witzel sobre os problemas que Pastor Everaldo e o empresário Edson Torres estariam causando na saúde do Estado.

“Eu procurei o senhor para avisar que estavam passando dos limites e comprometendo o funcionamento dos hospitais” , afirmou a Witzel o ex-secretário Edmar, que também revelou o repasse de verbas da Saúde a municípios comandados por aliados do governador afastado, como o prefeito de Volta Redonda, Gotthardo Neto, preso em agosto de 2020, para quem foram repassados R$ 21 milhões. Teriam sido favorecidos ainda com verbas da Saúde os prefeitos de Barra Mansa e  Bom Jesus do Itabapoana.

Redação

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